Por mais que tentem me convencer do contrário, não há, honestamente e no mundo real, um único motivo plausível para comemorar ou aplaudir qualquer aspecto da atual administração de Porto Seguro. Desde que anunciei meu afastamento da política, alguns amigos mais insistentes vêm tentando me empurrar para os braços do prefeito Jânio Natal, embora, por óbvio, eu não precise dele e ele muito menos de mim. Dois bicudos não se bicam. Mas a ladainha que ouço é que ele é o grande nome da vez, que está muito rico, poderoso, que domina a cena política e que vai mandar e desmandar na cidade pelos próximos 20 anos, e que a ex-prefeita Cláudia Oliveira não tem mais chances, tão cedo, de voltar a comandar a cidade.
Pois bem. Não duvido do poder avassalador do prefeito, de jeito nenhum, ainda mais de JN. Em terra de cego, quem tem um olho é rei e sempre será majestade. E numa cidade em que o discernimento político desapareceu completamente, que política virou um balcão de negócios e em que lideranças se vendem como tomate em feira livre e a população se contenta com migalhas em troca de bajulação gratuita, qualquer figura com verba e microfone vira imperador, em que pese um outro político, no caso Ubaldino, também com muita verba e microfone, deva retornar ao páreo na próxima disputa. Se bem que se for por verba e microfone, possivelmente a ex-prefeita não deva deixar por menos. Aliás, em relação à ela, o seu futuro político vai depender muito do sucesso ou do insucesso do prefeito Robério, em Eunápolis.
SEM JUSTIFICATIVAS
Mas vamos ao que realmente interessa: o que exatamente melhorou em Porto Seguro nos últimos anos? Seriam as praças com chafariz e a Passarela do Descobrimento? E não me venham com as famigeradas nomeações e os penduricalhos de cabide de emprego. Isso não é administração, é sobrevivência de aliados. Quero saber de verdade: qual secretaria funciona com o mínimo de competência? Onde está a eficiência administrativa? O que foi feito de concreto que beneficie a população que não está com a caneta na mão?
Me digam, por favor, o que justifica o encerramento imediato da obra da ponte entre Porto Seguro e Arraial d’Ajuda, justamente um dia após as eleições? Coincidência? Não brinquem com nossa inteligência. E a tal reforma do secretariado prometida com pompa há um ano? Em três dias, os mesmos incompetentes estão de volta aos mesmos cargos, como se nada tivesse acontecido. E a "promessa de campanha" de acabar com a zona azul, que virou uma infame indústria da multa e, para piorar, agora ressurgiu com o triplo do preço? Isso é plano de governo ou golpe de mercado?
Alguém em sã consciência pode aplaudir esse modelo de gestão? E não, não estou aqui para desmerecer o talento do prefeito em proteger aliados. Isso ele faz com maestria. Mas proteção política é uma coisa, competência administrativa é outra completamente diferente. E neste governo, o que se vê é o fracasso rotineiro, o abandono institucionalizado, a cidade entregue à própria sorte.
O BOBO DA CORTE
O vice-prefeito, aliás, parece ser o único ainda disposto a desempenhar o papel de bobo da corte. E não é por convicção, é por interesse: sonha suceder o chefe, custe o que custar. Do resto, até os secretários mais próximos já não conseguem disfarçar o incômodo. Nada funciona, nada anda. Programa de regularização fundiária, então, há 5 anos não conseguiram aprovar um único projeto de Reurb na cidade, por pura incompetência e falta de conhecimento sobre a matéria.
A cidade, em especial a orla norte, definha em meio a buracos e lixo. As promessas evaporaram. O que se vê é uma gestão burocrática, descolada da realidade, sem compromisso com o futuro. Porto Seguro só não mergulha em um colapso completo porque ainda tem o privilégio de ser um dos destinos turísticos mais cobiçados do país. Mas turismo não é escudo para ineficiência, nem turismo é desculpa para omissão.
Resumindo: apoiar esse governo hoje é como assinar embaixo de um atestado de conivência. E disso, definitivamente, sobretudo na minha idade e com o meu histórico de vida, eu prefiro passar longe. Aliás, bem longe!