A política é feita de escolhas — algumas corajosas, necessárias e inovadoras, outras convenientes. No caso do prefeito Jânio Natal, uma dessas escolhas tem se repetido há décadas: a proteção incondicional aos seus aliados, independentemente da competência ou da conduta moral de cada um.
As recentes exonerações no primeiro escalão da Prefeitura de Porto Seguro levantaram esperanças de renovação. Mas quem conhece o histórico de Jânio sabe que essas mudanças são, na maioria das vezes, apenas reacomodações internas. Trocam-se os cargos, mantêm-se os nomes e os rendimentos. E, pior: mantêm-se os vícios.
Ao longo de mais de 50 anos de trajetória pública, Jânio coleciona episódios em que preferiu proteger os seus do que defender o interesse público. Em seu primeiro mandato como prefeito em Porto Seguro, por exemplo, quando fiscais foram presos por extorsão à ambulantes, a reação não foi a esperada de um gestor comprometido com as boas regras da administração pública: nenhuma exoneração. Pelo contrário, houve até apoio financeiro ao grupo detido, mesma posição tomada recentemente em relação a fiscais do meio ambiente que respondem a processos judiciais pelo mesmo crime de extorsão.
CUSTO ELEVADO
Essa fidelidade extrema, boa somente para quem encontra proteção indevida, tem um custo — e não é baixo. Em 2024, mesmo com uma vitória expressiva nas urnas e gastando recursos milionários, Jânio enfrentou uma rejeição histórica. A população estava cansada, não exatamente dele, mas dos rostos que o cercam, de gestões marcadas mais pela lealdade cega do que pela eficiência e honestidade.
A questão que se impõe é: até quando esse modelo resiste?
Jânio pode ser leal aos seus, mas a maioria daqueles que ele protege não é, nem nunca foi, leal a ele. Essas pessoas orbitam o poder, não o homem. Elas são poder, não são governo. Estão e estarão com ele enquanto ele está no comando, assim como estiveram com a ex-prefeita Cláudia Oliveira enquanto ela pôde atender-lhes as demandas e os caprichos pessoais, de preferência uma nomeação que não exija comparecimento e horário no serviço público municipal. Mas basta o poder mudar de mãos, e os leais de hoje correm para os braços do adversário de amanhã. A história política da Bahia está repleta de exemplos assim — e Jânio, com toda a sua experiência e seu talento eleitoral, parece ignorar essa lição.
Com a possibilidade de uma candidatura ao governo do Estado ou o - bom - projeto político de seu filho Jânio Júnior, o momento exige mais que fidelidade pessoal: exige visão de futuro, compromisso com a cidade e coragem para romper com um ciclo que há muito deveria ter sido encerrado.
Chega de mais dos mesmos! Proteger quem não merece não é virtude. É erro — e dos grandes.