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Gostem dele ou não, é impossível negar: o prefeito Jânio Natal é um animal político de primeira grandeza. Começou como empregado e dirigente sindical da Petrobras e, um dia, percebeu que convencer o eleitor com discurso era infinitamente mais fácil — e mais rentável — do que bater ponto todo santo dia. Desde então, nunca mais largou a vida pública. Lá se vão mais de 50 anos nessa profissão para a qual não existe faculdade, mas que exige talento natural e frieza de jogador de xadrez.



Além de habilidade, Jânio carrega outra marca rara na política: a lealdade pessoal. Cumpre seus acordos com quem está no seu círculo próximo, sem o menor escrúpulo, doa a quem doer. Essa fidelidade foi um dos pilares que o mantiveram vivo politicamente, revezando-se entre mandatos de prefeito e de deputado, sempre com a porta de retorno escancarada para o cargo.



A DEPENDER DO STF



Agora, no que deve ser o último capítulo de sua carreira, Jânio vive sob o suspense do STF, que decidirá se sua última eleição é legítima, legal ou não. Enquanto isso, mantém-se na cadeira à custa de uma defesa jurídica que já teria consumido algo na casa dos R$ 50 milhões — entre advogados e “agrados” a desembargadores e ministros. Caso consiga se manter até 2028, ele quer pagar a dívida de lealdade: transformar o seu vice, Paulinho Toa Toa, em prefeito.



E aqui começa a mágica. Não é apenas a tarefa de “fazer o sucessor” — algo que todo político sonha. O desafio real é eleger Paulinho. Isso porque a fidelidade canina do vice ao prefeito, que para Jânio é um ativo, para o resto da cidade é um problema. O eleitor contrário à atual administração enxerga nele um representante direto do mundo cor-de-rosa pintado pela propaganda oficial — um mundo que, fora das peças publicitárias ou das matérias da imprensa de aluguel, simplesmente não existe.

REJEIÇÃO INTERNA



O drama é que, mesmo dentro do próprio grupo político, Paulinho não desperta entusiasmo. Muito pelo contrário. Informações de bastidores, vindas de gente graúda — secretários, assessores e antigos aliados — dão conta de que 80% do grupo de Jânio está pronto para pular fora antes de ter que apoiar Paulinho. E esse desânimo não é gratuito: a passagem do vice como multi secretário, ou o Zé dos Cargos, o expôs às críticas da própria base, e sua total falta de habilidade política fez o resto. Paulinho não é capaz de chamar um amigo para almoçar ou tomar um café sequer, vivendo exclusivamente somente dentro da sua bolha e dos seus interesses financeiros e pessoais.



Com esse cenário, surge a pergunta: para onde vão os desertores? Para muitos, a resposta é óbvia. Uma parte cogita Luigi, que parece não querer alianças com o “mercado persa” da política local. Mas a maioria enxerga no ex-prefeito Ubaldino Júnior um porto seguro perfeito. Ubaldino, aliás, já tem um histórico de boa relação com Jânio — inclusive um acordo firmado na última eleição. Se voltar ao jogo, ainda mais de posse de sua calculadora, receberá de braços abertos boa parte da tropa dissidente, formada em grande medida por ex-apoiadores de Cláudia Oliveira, cujo retorno ao cargo em Porto Seguro parece a cada dia mais improvável.


A MAIOR MÁGICA DE SUA VIDA



E é aqui que a coisa complica mais ainda: esse pessoal vendilhão de apoio e fisiológico ao extremo, que não se constrange em pular de galho em galho, sabe que um reencontro político com Cláudia é improvável. Não tanto por ela, mas porque eles mesmos teriam dificuldade de engolir o orgulho depois da “traição” política cometida no passado recente. Ubaldino, nesse sentido, é uma solução menos constrangedora e mais prática.


Em resumo: para Jânio, eleger Paulinho será o número de mágica mais arriscado da sua vida — e talvez o único que, mesmo com todo o seu arsenal de truques e articulações, possa escapar das suas mãos. Afinal, convencer o eleitor é uma coisa. Convencer 80% do próprio grupo a apoiar um candidato que eles não querem nem de graça… isso já é pedir para o mágico tirar coelho da cartola sem ter cartola nem coelho.



E, se essa mágica falhar, Jânio corre o risco de encerrar sua carreira não como o grande articulador que sempre controlou o tabuleiro, mas como o prestidigitador que errou o truque no grande final — deixando a plateia aplaudir de pé, mas por pena.