STF

 

O Brasil virou uma espécie de reality show jurídico, onde a toga substituiu o bom senso e a presunção de inocência deu lugar à presunção de culpabilidade por afinidade ideológica. Prova disso é o espetáculo grotesco que se instalou após os eventos de 8 de janeiro: um episódio lamentável, sim, mas que rapidamente se tornou a desculpa perfeita para que o Supremo Tribunal Federal, liderado pelo incansável Alexandre de Moraes, promovesse um expurgo seletivo, com penas desproporcionais, julgamentos sumários e um festival de injustiças contra gente que, em muitos casos, estava ali sem saber nem o motivo — o crime? Estar no lugar errado e na hora errada.

 

A narrativa oficial é sedutora: uma tentativa de golpe, orquestrada por bolsonaristas radicais que queriam tomar o poder à força, quebrar a democracia e instaurar uma espécie de república militar gospel. Na prática, o que se viu foi um desfile de amadores, carregando bandeiras e orando ajoelhados, sendo tratados como se fossem terroristas de manual. Com a complacência do Congresso e o silêncio cúmplice da imprensa, Moraes sentou-se na cadeira de juiz, promotor e carcereiro, e passou a distribuir penas de décadas, como se estivesse lidando com líderes do Hezbollah.

 

ALUCINAÇÃO COLETIVA 

 

Enquanto isso, Jair Bolsonaro, que até hoje não conseguiu articular meia frase coerente sobre qualquer tema complexo, continua sendo pintado por seus seguidores como o messias traído – o homem que alertou sobre fraudes, que tentou salvar a pátria e que agora, supostamente, será vingado por Donald Trump com sanções mirabolantes e ameaças diplomáticas de Twitter. Não que o Lula valha uma pataca a mais que Bolsonaro, mas, verdade seja dita, é mais uma alucinação coletiva: ninguém no governo americano vai comprar essa ideia de que um ministro do STF precisa ser enquadrado na Lei Magnitsky por ser antipático ao bolsonarismo. Não é assim que o mundo funciona ou como a banda toca. . E não, o Brasil não será salvo porque o visto de Alexandre de Moraes pode ser cancelado.

 

A verdade é bem menos épica – e bem mais preocupante. Moraes aproveitou o 8 de janeiro como uma carta branca para fazer valer um projeto pessoal de poder. A operação jurídica que se seguiu à invasão foi uma fábrica de injustiças em série: centenas de pessoas presas preventivamente por semanas sem acesso a advogados, mulheres de meia idade acusadas de “atentado à democracia” por filmarem o tumulto, pais de família condenados a mais de 15 anos de prisão sem qualquer evidência de vandalismo. O julgamento virou espetáculo. E a toga virou instrumento de revanche.

 

Mas quem tenta denunciar esse abuso é imediatamente rotulado de extremista, conspirador, golpista. Afinal, questionar o STF virou heresia moderna – e Moraes é tratado como sumo sacerdote do regime. A crítica virou crime. A dúvida virou afronta. E, no fim, a democracia que dizem proteger se transformou num teatro controlado, onde só entram os que aplaudem de pé o enredo oficial.

 

Enquanto isso, o povo assiste calado. Os que acreditaram que a verdade e o bom senso venceriam no fim, agora assistem a Justiça ser usada como arma política – com apoio dos “democratas” que se diziam defensores dos direitos humanos. Ninguém mais lembra que, por aqui, inocente é quem tem a bênção da toga. E culpado é quem ousa discordar dela.